Construí esse muro sozinha. Foi feito de sangue e choro ao som de falsas promessas. Pintado à mão. Minha mão trêmula. Necessitei das pontas dos meus pés em alguns momentos. Muito alto. Cada vez mais alto. Fui deixando pessoas durante a construção. Esmaguei muitas entre uma defesa e outra. Entre um tijolo e outro. Aprendi a me equilibrar nos inacabados e descartei com a maior frieza os mais pesados. Sempre fui fraca.
Minha força de menina não suporta tanto. Tentei abandoná-lo por diversas vezes. Mas sempre surgia uma mágoa nova pra se acomodar em meus destroços. Tentaram derrubá-lo. Eu tentei também. O irônico é que ele crescia cada vez mais sem eu nem perceber. Quando dei por mim, não enxergava nada do outro lado.
Virou obsessivo esse negócio de proteção. Essa válvula de escape crescente e indecente. Perdi o controle dos meus sonhos. Me infiltrei em contos de fadas. Massacrei mocinhos e mocinhas com a simplicidade de um toque. Nem senti.
Esqueci como é confiar nas pessoas. Fui me defendendo com tantas garras, me escondendo com tanto afinco, que não me lembro mais o que é sossegar no colo de alguém de olhos fechados.
Cada vez mais só. Só eu e o meu muro.
Se a minha solidão fosse só minha talvez fosse mais fácil.
(Lara Gay)